ATA DA VIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 27.08.1998.

 


Aos vinte e sete dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e trinta e oito minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega da Comenda Pedro Weingartner à Artista Plástica Paulina Laks Eizirik, nos termos do Projeto de Resolução nº 27/97 (Processo nº 2635/98), de autoria do Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a MESA: o Vereador Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Coronel José Roberto Rodrigues, representante da Secretaria de Justiça e Segurança; o Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; o Senhor Cláudio Ely, representante da Secretaria Municipal da Cultura; a Senhora Paulina Laks Eizirik, Homenageada; o Senhor Moisés Eizirik, esposo da Homenageada; os Vereadores Isaac Ainhorn e João Carlos Nedel. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional. Após, registrou que no dia oito de agosto do corrente ocorrerá a abertura do 13º Salão de Artes Plásticas - Câmara Municipal de Porto Alegre e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT, PTB, PSDB, PMDB, PSB e PPS, expôs as razões que o levaram a propor a presente homenagem, salientando o valor da obra da Artista Plástica Paulina Laks Eizirik e afirmando que a presente Sessão insere-se no conjunto de atividades realizadas por este Legislativo, referentes ao transcurso dos cinqüenta anos do Estado de Israel. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PPB, saudou a Homenageada, analisando a importância da arte dentro da sociedade atual e incentivando a Senhora Paulina Laks Eizirik a dar continuidade à sua atividade artística, colaborando, assim, para melhorar o conjunto da humanidade. O Vereador Henrique Fontana, em nome da Bancada do PT, declarou ter sido aluno do filho da Homenageada, recebendo, ainda que indiretamente, inúmeras lições de força e amor pela vida. Também, teceu considerações acerca do significado da arte como meio da valorização da sensibilidade humana. Após, o Senhor Presidente convidou o Vereador Isaac Ainhorn a proceder à entrega da Comenda Pedro Weingartner à Artista Plástica Paulina Laks Eizirik, concedendo a palavra à Homenageada, que agradeceu o prêmio recebido. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e trinta e oito minutos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada às dezessete horas. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Luiz Braz e João Carlos Nedel, este nos termos do artigo 27 do Regimento, e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega da Comenda Pedro Weingartner à Artista Plástica Paulina Laks Eizirik, nos termos do PR nº 27/97, de autoria do Ver. Isaac Ainhorn.

Convidamos para compor a Mesa a homenageada, Sra. Paulina Laks Eizirik; Cel. José Roberto Rodrigues, representante da Secretaria de Justiça e Segurança; Sr. Moisés Eizirik, esposo da homenageada; Cel. Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; Sr. Cláudio Ely, representante da Secretaria Municipal de Cultura.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos cumprimentar a homenageada e também todos aqueles que aqui vieram. Queremos, também, cumprimentar o Ver. Isaac Ainhorn, proponente desta homenagem, pela oportunidade que dá a esta Casa, que representa toda a sociedade de Porto Alegre, de prestar essa reverência ao mundo da arte.

Registramos a presença do Ver. João Dib, um dos mais antigos Vereadores, que nos honra com a sua presença neste Plenário. Honra-nos também a presença de todos os senhores nesta tarde, nesta semana que antecede os 225 anos da Câmara Municipal. A Câmara vive um período de festividade, e já que estamos homenageando uma artista plástica, a Sra. Paulina Laks Eizirik, queremos anunciar que nos próximos dias estaremos inaugurando o Salão de Artes Plásticas da Câmara Municipal. Todos os senhores estão convidados a prestigiarem essa nossa inauguração.

Concedemos a palavra ao proponente desta homenagem, o Ver. Isaac Ainhorn, que vai falar pelas Bancadas do PDT, do meu Partido o PTB, do PSDB, do PMDB, do PSB e do PPS.

Registramos a presença do Ver. João Carlos Nedel, da Bancada do PPB.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente; nossa homenageada Dra. Paulina Laks Eizirik; Srs. Vereadores. (Saúda os demais integrantes da Mesa.)

As razões que determinaram esta homenagem são de dupla natureza, de um lado, o reconhecimento da sociedade porto-alegrense às artes plásticas expresso nesse reconhecimento, nesta homenagem que prestamos hoje e que outorga a Comenda Pedro Weingartner à Sra. Paulina Laks Eizirik.

Gostaríamos de fazer um registro muito importante, porque além da presença do Dr. Moisés, seu esposo; estão aqui seus filhos: o Dr. Cláudio e o Nelson, meu colega advogado, formado aqui no Rio Grande do Sul, que foi para o Rio fazer mestrado e nós acabamos perdendo-o. O Rio de Janeiro ganhou com mais essa exportação, das múltiplas que fizemos, desde a época do Dr. Getúlio, os gaúchos têm presença marcante na vida do Rio de Janeiro. O Nelson veio especialmente para participar desta Sessão Solene de outorga da Comenda Pedro Weingartner à Dra. Paulina Laks Eizirik.

Registro, também, com satisfação, a presença do ilustre Ver. Henrique Fontana, que também enriquece com a sua presença este Plenário.

Mas dizia que duas razões me motivaram a prestar essa homenagem. De um lado, o reconhecimento da Casa política, da representação política da Cidade de Porto Alegre às artes plásticas na figura, este ano, da artista Paulina Laks Eizirik; de outro lado, esta Sessão Solene se integra ao conjunto de homenagens que esta Casa prestou durante este ano simbólico e extremamente significativo pela passagem dos cinqüenta anos do Estado de Israel. Aqui, em maio, com a presença do Sr. Embaixador do Estado de Israel. foi prestada uma homenagem aos cinqüenta anos do Estado de Israel.

Há poucos dias esta Casa prestou uma homenagem ao Grupo das Na´Amat Pioneiras, pela passagem dos seus cinqüenta anos.

Hoje, como que concluímos esse conjunto de homenagens, num reconhecimento às etnias que construíram e formaram esse Estado. Há alguns dias, também, com a participação decisiva da nossa homenageada, nós inauguramos uma mostra de artistas gaúchos, uma coletiva, cujo objetivo era prestar uma homenagem aos cinqüentenário do Estado de Israel. E hoje estamos aqui, prestando uma homenagem à artista Paulina Laks Eizirik e o fazemos dentro desse duplo propósito de reconhecimento a uma artista e, sobretudo, à sua história, às suas origens e às suas raízes. Curiosamente - ou não -, todos os motivos da sua extraordinária obra têm a inspiração e a evocação de motivos judaicos. Esse é um dado importante que ela buscou, essa veia de inspiração que brotou das suas raízes.

Nossa homenageada é jovem, sou testemunha da sua determinação e capacidade de trabalho. No Brasil, ela chegou  em 1931, na fatídica década de 30, que concluiu com a eclosão da II Guerra Mundial.  Já nos idos de 20, notadamente no início da década de 30, sentia-se o peso da ascensão de algo que não imaginávamos que chegasse no nível que chegou, da maior barbárie que atingiu a humanidade. Foi dentro desse quadro que para cá vieram inúmeras famílias, fugindo do horror das perseguições da Europa Oriental, poderíamos dizer, da Inquisição Moderna, até diria muito pior do que a Inquisição. Essas pessoas talentosas vieram da Europa Oriental para os Estados Unidos, para o Brasil e para a Argentina e aqui chegou a família Laks, como tantas outras famílias das distantes terras da Polônia, Rússia, União Soviética, Ucrânia, Romênia e da Alemanha. O clima na Europa Oriental não era mais vivenciável para a comunidade judaica e para algumas vertentes do pensamento social-político, então, para cá vieram e construíram um enorme patrimônio cultural, e assim como outras etnias, deram sua enorme contribuição. Dentro deste quadro insere-se a figura da nossa homenageada, Dra. Paulina Laks Eizirik, que oriunda de uma de uma atividade profissional médica, na condição de Odontóloga, num determinado momento abandonou as brocas de seu trabalho cotidiano e optou por outros instrumentais de trabalho. Há pouco comentávamos que, de certa maneira, o Odontólogo é um artista, na medida em que ele tem uma enorme preocupação com a constituição, com a estética, o perfil, a fisionomia das pessoas.

Mas, o que gostaríamos, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, de deixar registrada é a importância deste evento e a sua originalidade. Esta Comenda, a Comenda Pedro Weigartner, foi instituída pela Câmara Municipal de Porto Alegre em 1994 e, curiosamente, está sendo concedida pela primeira vez no dia de hoje. É a primeira outorga desta Comenda, e é feita à Dra. Paulina Laks Eizirik. É a primeira, embora ela tenha sido instituída em 1994, e a possibilidade legal, de acordo com o texto da Resolução, é a outorga por iniciativa de Projeto de Lei de Vereador, mas de apenas uma Comenda anualmente. Tenho certeza que neste momento inauguramos como um incentivo e como um reconhecimento à cultura, às artes plásticas, aos artistas gaúchos, a outorga, a entrega da primeira Comenda Pedro Weigartner, figura maior da pintura rio-grandense e brasileira.

A Comenda é uma obra individual, de um colega de tantos artistas que aqui se fazem presentes, contratada pela Câmara Municipal, o que já é também um incentivo à atividade cultural da Cidade, é uma obra do Artista Plástico Paulo Porcella. Achamos importante, daí porque devemos ressaltar a importância desta outorga, porque, primeiro, esta Casa tem uma natureza política, se constitui na representação política da Cidade de Porto Alegre, é o Poder Legislativo da nossa Cidade. Até inventarem uma outra forma de organização social, talvez mais evoluída e mais perfeita, ainda não conseguimos superar a teoria dos três Poderes, o Poder Judiciário, o Poder Executivo e o Poder Legislativo, com suas atribuições, competências e harmonia que deve existir entre esses três Poderes na busca do bem comum.

 Já se fizeram no mundo inúmeras tentativas, mas nada se criou tão perfeito, apesar de todos os defeitos que possa ter, essa concepção oriunda dos franceses, Séc. XVIII, obra do Filósofo Montesquieu. Então, essa Casa, como expressão política da Cidade de Porto Alegre, no exercício das suas atividades, além do exercício da sua competência natural de fazer leis, porque pertence ao Poder Legislativo a competência para elaboração das leis, e de outro lado fiscaliza os atos do Poder Executivo, mas esta Casa também tem um compromisso comunitário, um compromisso cultural com a Cidade.

Há pouco o Presidente desta Casa dava conhecimento a todos de que nos próximos dias, por ocasião do aniversário da Câmara Municipal, terá início o Salão de Artes Plásticas da Câmara Municipal, do Rio Grande do Sul,  que concede a inúmeros artistas premiações pelos seus trabalhos. Esta Casa hoje tem um espaço próprio de realização de atividades artísticas, com uma galeria de artes, com atividades culturais próprias. Poderiam alguns pensarem; mas o Legislativo tem que legislar, não tem que desenvolver atividades culturais, mas hoje com a ampliação das atividades do Poder Legislativo, ele também tem um compromisso com a cultura. No momento em que temos aqui nesta Casa uma Galeria de Artes, que temos um Salão de Artes Plásticas, que concedemos uma outorga de reconhecimento pelas atividades de um artista, pela sua expressão, pela sua criatividade nós estamos dando ao conjunto da sociedade o reconhecimento e o valor que deve ter a atividade cultural e artística, muitas vezes tão esquecida e tão relegada a segundo plano.

É esse o enfoque que devemos dar, neste momento, Dona Paulina, quando a Casa lhe outorga a maior honraria na área cultural, dentre homenagens da Câmara Municipal, que é a Comenda Pedro Weingartner. É esse o sentido que tem a homenagem que hoje a Casa da representação política da Cidade de Porto Alegre faz ao outorgar-lhe a Comenda Pedro Weingartner.

Parabéns à nossa artista, parabéns aos seus familiares que se fazem aqui presentes e aos seus colegas. Porto Alegre honra-se e a Câmara se engalana em poder, nesta oportunidade, lhe prestar esta homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Dib está com a palavra pela Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO DIB: (Saúda os componentes da Mesa e os demais presentes.) É com muita satisfação que ocupo esta tribuna, para, em nome dos Vereadores Pedro Américo Leal, João Carlos Nedel e do meu próprio, saudar a homenageada no dia de hoje.

Eu sempre digo que a pintura é a poesia que não fala, e para todos nós a poesia e a pintura fazem muito bem. E as pessoas que fazem poesia e que pintam ajudam a nossa vida a ser melhor. Mas as pessoas são felizes, nossa querida Paulina, quando fazem aquelas coisas que gostam. E a nossa Paulina conseguiu a sua identidade quando, com seus pincéis maravilhosos, se dedicou à pintura naif. E esse é um momento extremamente importante. As pessoas realizando aquilo que desejam têm a oportunidade de se sentir melhor. E essa melhoria que a pessoa sente, se transmite para aqueles que estão em seu entorno.

Eu e a minha Bancada ficamos felizes de, hoje, estar aqui prestando esta homenagem, porque esta moça que está sendo homenageada hoje vai se manter assim, porque vai sempre estar satisfeita mas, sobretudo, ela vai poder fazer o outro importante papel, que a mulher judia tem, há de ser a “idish momme”, com seus três filhos, suas três noras e seus sete netos.

E o que a minha Bancada e o que esta Casa desejamos é que este casal continue sendo muito feliz, continue participando da nossa sociedade, continue cada dia mais solidário, cada dia mais útil à coletividade a que pertencemos todos nós. Eu encerro dizendo para todos nós: saúde e paz.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Henrique Fontana está com a palavra pela Bancada do PT.

 

O SR. HENRIQUE FONTANA: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Gostaria de saudar, especialmente, o meu professor e mestre de parte do meu aprendizado e conhecimento, Sr. Cláudio Eizirik, filho da homenageada.

Eu começo com essa citação especial, Sra. Paulina, porque nós, aqui, no Legislativo Municipal de Porto Alegre fazemos muitas homenagens. É natural que uma Casa política que representa a cidadania de Porto Alegre homenageie diferentes pessoas que se destacam em diferentes áreas da nossa Cidade. E, muitas vezes, quando estamos numa dessas homenagens ou quando se vai homenagear alguém, ficamos a refletir qual a relação, o que é que nos motiva nessa homenagem e o que gostaríamos de dizer para essa pessoa que a Cidade de Porto Alegre está homenageando, no caso de hoje V. Sa.

Quando, há três dias - e conto um pouco dos segredos da Câmara para as pessoas que estão nos visitando - passava a circular por nossa Bancada para definir quem representaria o Partido dos Trabalhadores nesta homenagem, eu, ao ler aquela circular, fiquei com vontade, e digo com toda franqueza e sinceridade, muito mais pela minha relação pessoal e pelo pedaço da minha vida que passei com seu filho, como meu professor, e quando se fala e conhece um filho, indiretamente, está-se conhecendo uma grande parte de uma mãe e de um pai, no caso de V. Sa., hoje, como homenageada, uma grande parte sua,  porque os filhos sempre a trazem presente.

Eu não lhe conheço pessoalmente e, portanto, não poderia falar com uma intimidade pessoal ao homenageá-la, destacar e definir as suas qualidades, me senti emotivo exatamente porque, se o Mestre Eizirik, como nós brincávamos na nossa turma, passou tantas coisas boas para nós, para conhecer no período em que estivemos juntos, a condição humana, seguramente, boa parte dessas coisas ele aprendeu com a senhora e, portanto, isso para mim é um motivo mais do que suficiente para me motivar e, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, homenageá-la.

Outra questão que também para mim motiva é, em nome do meu Partido, lhe deixar um abraço e um incentivo muito forte para continuar o seu trabalho dentro do mundo das artes plásticas, dentro do mundo da arte. É isso que nós estamos vivendo hoje, um período da nossa sociedade marcadamente carregado por um reforço muito grande ou por uma exagerada valorização de um racionalismo econômico. Evidentemente, nesses períodos, o mundo das artes tende a não ter a mesma força e o mesmo apoio da sociedade que eu, pelo menos, entendo que deve ter. Estamos precisando reforçar tudo aquilo que a nossa sociedade traz à tona, os valores do humanismo, os valores da relação social entre as pessoas e, seguramente, os artistas são pessoas que representam uma vanguarda nessa luta pelos valores humanistas e pelos valores da sensibilidade das relações humanas e daquilo que os homens pensam, sentem e que conseguem expressar de diferentes maneiras. A senhora, certamente, em muitas de suas obras, expressou coisas muito importantes para que a condição humana conheça melhor a condição humana, para que os homens e mulheres consigam se apaixonar mais pelos homens e mulheres no sentido de construir uma sociedade onde homens e mulheres se respeitem mais e sejam mais felizes.

Parabéns para a senhora: seja uma pessoa sempre envolvida com a sua atividade e sempre contribuindo com essa condição humana que nós queremos construir. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Convidamos, agora, o proponente desta homenagem. Em nome da Casa e de todos os Vereadores que representam a sociedade porto-alegrense, o Ver. Isaac Ainhorn fará a entrega da Comenda Pedro Weingartner à Artista Plástica Sra. Paulina Laks Eizirik.

 

(É feita a entrega da Comenda.) (Palmas.)

 

É evidente que as Senhoras e os Senhores sentiram que os oradores que foram para a tribuna são magníficos. E todos eles, com as suas palavras, exaltaram as qualidades da Artista Plástica Paulina Laks Eizirik. Mas, por mais que eles pudessem realmente dizer com as suas palavras, o público aqui presente estava esperando mais por este momento que vamos viver agora. É podermos ouvir a nossa homenageada, a Artista Plástica Paulina Laks Eizirik.

 

O SR. PRESIDENTE ( Luiz Braz): É com prazer que passamos a palavra a nossa homenageada, Sra. Paulina Laks Eizirik.

 

A SRA. PAULINA LAKS EIZIRIK: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Em primeiro lugar desejo agradecer ao Ilustre Ver. Isaac Ainhorn, a quem emocionadamente agradeço por ter indicado o meu nome para receber a Comenda Pedro Weingartner e aos prezados Vereadores desta Casa que o aprovaram. Considero um grande mérito os Vereadores desta Casa terem instituído este prêmio como uma forma de prestigiar e elevar a produção artística no nosso meio, na nossa mui leal e valorosa Cidade de Porto Alegre.

O patrono deste prêmio, Pedro Weingartner, foi pintor, desenhista e gravador. Era tido como um pintor de costumes do Rio Grande do Sul e paisagista, segundo o crítico Walmir Ayala, e trouxe elementos importantes e novos para a pintura de seu tempo. Foi, essencialmente, um pintor naturalista. É para mim uma grande honra receber a Comenda que leva o seu nome.

Gostaria de contar-lhes algo sobre minha vida e meu trabalho. Nasci em Varsóvia, Polônia, e, criança ainda, vim com meus pais para Porto Alegre. Fiz o curso primário no Colégio Luciana de Abreu, mais tarde no Ignácio Montanha. O Ginasial foi no Colégio Bom Conselho. Estudei depois no Colégio Júlio de Castilhos e, mais tarde, cursei a Faculdade de Odontologia na UFRGS. Fiz toda a minha formação na Cidade de Porto Alegre e me considero uma gaúcha de fato

Assim, nas diversas exposições que tenho feito no exterior, falo sempre sobre a nossa Cidade e sobre o Brasil, que é um País que amo.

Na época, quando estudei na Faculdade de Odontologia, éramos três moças na Faculdade, no meio de um mar de homens. Casei, ainda na Faculdade, no segundo ano de Odontologia, com Moysés Eizirik, meu querido companheiro até hoje e tivemos juntos três filhos. Trabalhei vinte e cinco anos como dentista, mas sempre muito interessada em arte. Sempre gostei de desenhar. Ao viajar para o exterior com meu marido, o meu melhor programa era visitar os museus.

Comecei a trabalhar em arte em 1982 no Atelier Livre da Prefeitura. Fiz o Curso Básico, o de Desenho, e outros cursos. As professoras logo notaram a minha ânsia de aprender e a minha paixão pela arte. A professora Gisela Menezes me aconselhou a fazer o curso com Fernando Baril. Assim, trabalhei em Desenho no Atelier Livre, em pintura com Fernando Baril, e entrei no Curso de Expressão para estudar gravura. Estudei xilografia. Fiz três coisas ao mesmo tempo. Os três anos que estudei com Fernando Baril foram decisivos na minha aprendizagem de técnicas pictóricas e eu lhe sou reconhecida por sua ajuda. É atualmente um grande amigo meu.

Ao mesmo tempo fiz diversos cursos no Atelier Livre, que é um ótimo lugar para aprender e se realizar em arte. Tem muito bons professores. Sou especialmente agradecida ao meu prezado amigo Danúbio Gonçalves, pioneiro das artes gráficas, que foi o meu mestre em Litografia. O meu trabalho chamou, logo no início, a atenção dos professores, que muito me estimularam e, mais tarde, a atenção dos críticos de arte. Era uma maneira de ver as pessoas e coisas de forma diferente, feito com muita emoção, com muita força, um trabalho muito pessoal, que posso até chamar de autodidata, apesar dos cursos, e com diversas fases autobiográficas.

Tive fases, e a fase judaica veio há pouco tempo. Tive uma fase de nu feminino, de natureza morta, casario, mas desde o início sempre gostei mais da figura humana. Sempre gostei de observar as pessoas, a sua expressão fisionômica e, principalmente, o seu olhar.

A arte, desde o início, se tornou para mim uma paixão, uma obsessão, uma maneira de expressar os meus desejos e sonhos.

Eu pintei as mulheres. Eram as filhas que eu sempre desejei e não tive, pois tenho três filhos homens. Pintei a luta da mulher por sua dignidade, por seus direitos. A primeira exposição que fiz foi no saguão do Atelier Livre da Prefeitura. Uma das telas se chamava A Mulher Acorrentada, e fiz, literalmente, correntes nos braços dessa mulher e em sua volta, pois na minha geração a mulher era acorrentada pela educação cheia de preconceitos, impedida de ser livre e raras freqüentavam as faculdades. Que bom que aos poucos esses preconceitos vêm mudando! E hoje estão mudando rapidamente.

Tive uma época que pintava muito a mulher negra, muito sofrida, tratada com preconceito, o que muito me aborrecia.

Dentre tantos comentários de críticos do meu trabalho, como de Rubens Ricupero, Luiz Fernando Veríssimo, do meu amigo, aqui presente, Luiz Machado Lisboa e muitos outros, quero destacar o que fala sobre mim o nosso grande cronista, escritor e jornalista Luiz Fernando Veríssimo. (Lê.) “A pintura de Paulina é o mostruário das glórias da miscigenação artística. As comparações óbvias com Chagal e com os ‘naifs’ nordestinos só confirmam isso, mas a mistura é mais pessoal e rarefeita do que destas duas formas de ingenuidade. Não dá para imaginar, por exemplo, uma parte da insólita simbiose sem a outra, Paulina só pintando o drama, o humor e a poesia da experiência judaica, ou só pintando o colorido e a graça de suas mulheres brasileiras. Este Chagal é um brasileiro de sandália de dedo, este espontâneo brasileiro tem mil anos de história em seus genes. Um não existe sem o outro. O inacreditável é que os dois se juntaram na compulsão de uma ex-dentista de Porto Alegre, que começou a pintar quando já era avó.”

Em 1985 fui à Polônia, visitei Varsóvia, minha cidade natal, de onde saí criança. Visitei Auschwitz. Visitei o horror! Na volta, pintei sete telas negras, terríveis, fiquei com pressão alta, tive que parar por ordens médicas. Quando recomecei, as cores negras continuaram mais alguns meses. Recomecei, tentando reconstruir um mundo judaico já desaparecido. Visitei Amsterdã, vi a casa de Anne Frank; chorei; sofri!

Fui à Dinamarca, vi o Museu da Resistência. Vi fotos com dinamarqueses em seus barcos, transferindo, - à noite, seus vizinhos de religião judaica, velhos, homens, mulheres e crianças -, para a Suécia. Todos se solidarizaram, ajudando. E, dessa forma, todos os judeus dinamarqueses sobreviveram ao Holocausto. Lá, o Rei da Dinamarca, quando os nazistas obrigaram a população de religião judaica a colocar a estrela de David, foi o primeiro a fazê-lo, pois disse que o povo dinamarquês era um só, não havia diferença por motivos religiosos.

Nesta época, comovida com o que eu tinha visto na Dinamarca, a minha credibilidade na natureza humana se modificou, fiquei mais alegre e feliz. Porque, depois do que eu vi no Museu de Auschwitz e depois que eu vi, em Amsterdã, a casa de Anne Frank, quando eu vi a solidariedade humana dos dinamarqueses algo me tocou profundamente. Então, comecei a pintar as raízes judaicas. Desde então, fui pintando cenas alegres da vida judaica: casamentos, festas tradicionais, danças e os chassidim. Os chassidim são rabinos que louvam a Deus com alto astral, cantando e dançando. Eles não se queixam, eles dizem que a vida deve ser alegre, e eu tenho esta alegria das cores do Brasil, tenho esta alegria e o otimismo dentro de mim.

Nos meus trabalhos, sempre acrescento ao meu nome a palavra “chai”, que em hebraico significa vida, e é a raiz do nome de minha mãe, Chane. Eu não tenho censura no que faço, eu faço aquilo que tenho vontade. Um dia em que eu estava pintando, eu pensei: que pena que a minha mãe faleceu tão cedo e não chegou a ver as coisas que eu estou fazendo agora e que me dão tanto prazer e tanta satisfação. Agora, eu associo a raiz do nome dela sempre a todo e qualquer trabalho que eu faço.

O meu lema, desde o começo, sempre foi e continua sendo: “Imaginação, Criatividade e muito, muito Trabalho”. Até hoje já fiz vinte e seis exposições individuais e mais de cinqüenta coletivas. Das individuais, cinco foram no exterior: Paris, Suécia (duas), Washington, Buenos Aires e, neste ano, na Bélgica. Chamam o meu trabalho de “naif”, que significa ingênuo, trabalho feito com muita emoção e sonhos. Sonhos de vida, sonhos de paz. Dizem que os “naif” pintam molhando o pincel no coração. As pessoas, quando vêem as minhas obras, participam das minhas emoções. Elas são transparentes.

 Atualmente, o meu trabalho é sobre O sonho da paz e começou quando vi a foto, no jornal, com as mãos dadas, de Itzak Rabin e Yasser Arafat. Paz, em hebraico, é “shalon”. Era um sonho. Parecia algo impossível de acontecer. Comecei então a pintar como imaginava esta paz: quadros com alegria de viver, danças, canções, crianças nos parques, amor entre as pessoas e sempre uma pomba carregando, no biquinho, um ramo de oliveiras, e as cores mais lindas e vibrantes. Como já entenderam, eu também amo as cores. Fiz pessoas dançando, músicos tocando, alegria e felicidade para todos. Sonho com um mundo sem guerras, sem morticínios, sem fome. São emoções que aparecem nos meus quadros - são transparentes. Quando viajo e faço minhas exposições no exterior, divulgo sempre arte a brasileira, com muito amor. Sinto este amor por minha Cidade, Porto Alegre, e pelo Brasil, onde vivo quase toda a minha vida. Consegui me realizar como artista, casei com Moysés, meu grande companheiro, e tive meus três filhos: Cláudio, Nelson e Décio. Eles casaram, formaram as suas famílias e se realizaram nas suas profissões, sem problemas de raça e religião, sem preconceitos.

E é nesta querida Cidade que hoje me honram com este prêmio instituído em 1994. Convido a todos para que continuemos sonhando e trabalhando, juntos, para que esta paz se torne um dia uma realidade para todos os povos, e em nossos corações. Agradeço a todos pela presença. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Quero agradecer ao Ver. João Carlos Nedel por ter me substituído na Presidência dos trabalhos, uma vez que fui chamado para atender os órgão de imprensa no Gabinete da Presidência.

Meus amigos, é sempre empolgante para nós, Vereadores, na Câmara Municipal, estarmos aqui na condição de representantes da sociedade, homenageando aquelas figuras que mais se destacam dentro de nossa sociedade, nos seus mais diversos ramos.

É claro que nós temos, entre os Vereadores, representantes dos engenheiros, dos advogados, dos médicos, dos economistas, dos mais diversos segmentos, mas eu digo que aquele segmento que tem a maior representação nesta Casa, e acredito que dentro de qualquer parlamento, é este segmento dos artistas, porque dentro de todo ser humano bate um coração de artista. Muitas vezes pode ser até, como este Presidente que lhes fala, um artista frustrado, mas, na verdade, dentro de todos nós bate um coração de um artista. Quando a gente pode homenagear um artista que se destaca neste setor das artes plásticas, é um momento que esta Câmara não vai esquecer jamais, e um daqueles momentos marcantes que nós, Vereadores de Porto Alegre, podemos passar.

Quero agradecer à Artista Plástica Paulina Laks Eizirik, quero agradecer a todos os seus familiares, ao Ver. Isaac Ainhorn por ter proposto esta homenagem e ter-nos propiciado esses momentos. Quero agradecer a todos os Vereadores, João Dib, Henrique Fontana, João Carlos Nedel, Isaac Ainhorn por estarem participando deste momento tão importante para a vida de nossa sociedade, para a Cidade Porto Alegre.

Convido a todos para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(É executado o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a todos pela presença e declaramos encerrada a presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h38min.)

 

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